domingo, 9 de março de 2008

BATTLESHIP POTEMKIN (1925)


Fosse o nosso presidente Lula um grande apreciador de cinema, possivelmente usaria uma de suas metáforas futebolísticas para intitular Sergei Eisenstein como o “Pelé da Telona”. Na hipótese acima mencionada, o petista não estaria apenas mascarando uma simpatia pela orientação política recente da nação do russo, mas endossando a opinião de muitos admiradores da sétima arte. Assim como é absurdo cogitar se a genialidade de Pelé seria compatível com sua fama seria a mesma caso atuasse nos dias de hoje, a recíproca é verdadeira no caso de Eisenstein. O diretor, conhecido pelo uso extensivo da dialética, talvez pela natureza sociopolítica de sua obra, talvez pelas restrições do cinema mudo ou até mesmo por conceber o fruto de seu trabalho com uma conotação de utilidade pública ao invés de mero entretenimento, seria fatalmente um fracasso de bilheteria nos dias de hoje. Sua obra-prima, O Encouraçado Potemkin, estaria fadada à alcunha de mais um enfadonho filme de guerra nos dias de hoje. A visão totalmente errônea (pra não dizer mais) é soterrada por uma avalanche de fatos. O primeiro é a isenção do cineasta ao retratar o comportamento de seu próprio povo diante da revolução, demonstrando que os russos, assim como qualquer outro povo, tem qualidades e defeitos, guardam ódio e rancor, mas também demonstram amor e piedade – ao contrário da maioria dos filmes de guerra de hoje, onde os americanos tem sempre razão e a força motriz do filme é quase sempre uma love story, com raras exceções. No aspecto técnico, vale a pena ressaltar o cuidado com a trilha sonora, sempre encomendada à grandes nomes do cenário clássico russo. No “Encouraçado” em particular, grande parte do suspense e do sofrimento dos protagonistas era embalado pela sonoridade. No que tange ao seu ofício em si, Eisenstein proporcionou uma seqüência antológica, onde o exército russo persegue e esmaga sem piedade os dissidentes do regime de miséria em que vivem, não perdoando nem mesmo deficientes e uma criança recém-nascida, que escapa das mãos da mãe e desce velozmente por uma escadaria íngreme, desamparada à mercê dos rifles soviéticos. Dentro do que se propõe, passar a mensagem nua e crua que a revolução serviu apenas para mergulhar a Rússia em uma profunda depressão econômica, bem como dizimar a muitos de seus próprios cidadãos, o filme é brilhante. Podem dizer que o cinema mudo é pra museu, que a revolução é pra comunistas e que os russos só servem vodka, mas tomando-se como parâmetro a máxima de que “toda a unanimidade é burra”, fica a questão: o cinema seria o que é hoje sem a valiosíssima contribuição de Eisenstein? Fica a mesma pergunta para os fãs da indústria cultural... e se Senhor dos Anéis nunca tivesse sido lançado? O cinema continuaria sendo o mesmo? Provavelmente sim...

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