sábado, 10 de janeiro de 2009

SLUMDOG MILLIONAIRE (2008)


Tem feito grande sucesso no cinema de países subdesenvolvidos a fórmula de expor ao mundo as próprias mazelas. O brasileiro Cidade de Deus, que mostra brilhantemente a realidade da violência urbana e o uruguaio O Banheiro do Papa, que expõe, entre outros problemas, a questão do desemprego no país, são bons exemplos dessa classe de “cinema social”. O cinema indiano trouxe recentemente ao espectador um ótimo espécime dessa classe de filme, exibindo na telona o triste cenário de Mumbai, uma de suas principais metrópoles, onde criminalidade, terrorismo, trabalho infantil, prostituição e mais uma gama de desordens sociais encaixam-se com uma deliciosa história.
O principal personagem do enredo é Jamal, jovem que trabalha como assistente de telemarketing (serve chá aos telemarketeiros, na verdade) e tem a oportunidade de sua vida quando consegue participar do programa de TV “Who Wants to be a Millionaire”, que originou o brasileiro “Show do Milhão”. A participação acaba resultando em uma performance de tirar o fôlego, tanto que são levantadas suspeitas de fraude, o que leva nosso herói a ser submetido a um interrogatório policial. Nesse questionamento, Jamal justifica ao inspetor como sabia todas as respostas, sempre com flashbacks remetendo aos deliciosos episódios em que cada situação lhe fez lembrar do que lhe havia sido perguntado. É nesses retornos que o habilidoso diretor inglês Danny Boyle aproveita para ilustrar (com belíssimas imagens, fotografia colorida e vistosa nas paisagens, e desoladora e cinzenta, nas favelas e guetos) a sofrida infância dos irmãos órfãos Jamal e Salim. O resultado é um filme que glorifica o amor e a esperança em ter uma vida melhor, mesmo nas piores condições possíveis. Edifica também valores como o perdão e a redenção, em situações impassíveis de se-lo. No final das contas, acaba sendo muito mais que “meramente” um exemplar puro-sangue do cinema social; está mais para um “quase-documentário” lírico do sofrido cotidiano de um país pobre, recheado de lições de vida.