domingo, 14 de setembro de 2008

EL BAÑO DEL PAPA (2007)


Essa deliciosa crônica de costumes tem como plano de fundo a tão minúscula quanto desconhecida localidade de Melo, no Uruguai, próximo a divisa com o Brasil. Tamanha proximidade (apenas 60 km) faz com que alguns dos habitantes de Melo, entre eles o protagonista Beto, se utilizem de bicicletas para fazerem pequenos contrabandos de nosso país para o deles, de modo a burlar o desemprego e a pobreza. Logo no início do filme o público já se depara com a tênue linha entre o drama e a comédia, do tipo ‘rir pra não chorar’ presente em uma cena que o fiscal de fronteira Pelayo persegue os ‘contrabandistas’ uruguaios com uma velha caminhonete Chevrolet, os para, os tiraniza, os ameaça de confiscar toda a carga e, no final, pega apenas uma garrafa de whisky que um dos amigos de Beto iria vender ao dono da venda da cidadezinha.
Essa rotina é quebrada por um acontecimento de proporções globais: a comitiva do Papa João Paulo II iria passar pela região, atraindo uruguaios de todo o país e muitos brasileiros (as previsões mais otimistas diziam que 200 mil cruzariam a fronteira). Vendo a oportunidade de mudar de vida, a população moveu mundos e fundos (alguns até empenhando suas próprias casas) para estarem aptos a receber os visitantes e oferecer-lhes uma ampla variedade de alimentos, desde sanduíches de chorizo a algodão doce. A idéia de Beto para ganhar dinheiro surgiu justamente daí – afinal, com tantos alimentos, todos teriam que utilizar-se de um banheiro, uma hora ou outra. Após emprestar quase todas as economias de sua esposa Carmen (o restante seria para pagar a faculdade de Jornalismo de sua filha Sílvia, que queria ser radialista), Beto teve que se envolver em um esquema com Pelayo para poder terminar de construir o ‘cômodo’, trazendo aos poucos do Brasil materiais de construção e culminando no dramático momento, horas antes da chegada do Papa, em que volta de nosso país trazendo um vaso sanitário na garupa da bicicleta. Como se não bastasse esse sofrimento, um desentendimento com o fiscal faz com que Beto tenha que trazer o ‘toque final’ de suas meninas-dos-olhos nas costas, correndo enlouquecidamente a fim de não desperdiçar o fluxo de pessoas que já se instalava em Melo no momento. A partir daí, segue-se uma série de eventos que chegam a doer na alma do espectador, com leves pitadas de humor que fazem tilintar até o mais insensível. Um maravilhoso filme cuja principal virtude é sua simplicidade de espírito e a ‘cara limpa’ com que expõe as mazelas de uma região em dificuldades.

Leia mais em http://www.imdb.com/title/tt0482901/