domingo, 5 de dezembro de 2010

HOT FUZZ (2007)


Depois de uma certa bagagem cinematográfica, quando estamos familiarizados com os principais diretores e estilos de cinema, é lugar-comum que filmes com explosões e tiroteio constantes não podem levar a sério. Pois bem, Chumbo Grosso, no título em português, é uma exceção à regra.

Essa comédia inglesa é digna de ostentar a fama do "humor inglês", ácido, cínico e sem a apelação que suas congêneres americanas apresentam em profusão.

O roteiro é delicioso: uma crítica tenaz à polícia metropolitana inglesa, que, quem diria, tem alguns vícios parecidos aos de alguns companheiros brasileiros. Porém, dentre um batalhão de defensores públicos preguiçosos, aparece um espécime raro: Nicholas Angel. Angel, um policial prodígio, é o terror das ruas de Londres, tanto para os criminosos, quanto para os próprios colegas, que se sentem inúteis frente ao desempenho ímpar deste.

Visando limpar a barra da corporação, o auto comando da força decide transferi-lo para Stanford, uma cidadezinha pacata que ostenta os menores índices de criminalidade do país, ou seja, o limbo para Angel.

Mas o que aparentemente seria o cúmulo do tédio para tão gabaritado profissional, acaba se revelando justamente o contrário. Inicialmente sendo compelido a autuar infrações pouco "emocionantes", como menores bebendo em bares, policiais bêbados tentando voltar dirigindo para casa, entre outros, acaba virando em uma conspiração para proteger a reputação da idade.

É aí que Angel, juntamente com Danny Butterman, filho do inspetor-chefe da cidade, começa a mostrar serviço, desmascarando uma onda de crimes que há muito vinha sendo encoberta. Uma comédia inteligente, saborosa e cheia de surpresas, muito acima da média.

sábado, 20 de novembro de 2010

THE INVESTIGATOR (2008)

Em uma época onde nada mais se cria, um tanto se transforma e outro tanto se recicla, é revigorante presenciar um thriller húngaro à altura do suspense que o mestre Hitchcock impingia à suas películas.
Afinal, uma definição de um bom suspense não seria "colar o espectador à poltrona, com o coração palpitando e à espera do próximo susto, ou revelação surpreendente"? Nesse quesito, nota 10 para esse enredo intrigante e bem amarrado, ainda que com nem tanta originalidade.
Ainda assim, é gostoso se pegar imaginando o que virá pela frente e esperar até os últimos minutos para saber as surpresas que o roteiro nos revela.
Uma outra referência digna de menção são as implicações morais, que até certo ponto lembram parte da obra de Bergman, presentes na história. Ora, e agora começo a falar do filme em si, quão difícil é julgar se o assassinato é certo ou errado quando o objetivo do mesmo é a tentativa de salvar a vida da própria mãe, por piores condições de saúde e mais avançada a idade em que ela esteja? A indecisão em "julgar" bem e mal se torna ainda maior quando nos tornamos familiares com o personagem principal, um patologista assistente (ou, em miúdos, o homem que toma conta dos cadáveres que chegam a um hospital e os trata para que estejam apresentáveis na hora do funeral) retraído, intimista e introvertido, alheio ao convivío social, para qual a morte não representa um tabu, mas sim sua rotina diária.
E o que pensar quando descobrimos que esse homem, Tibor Malkav, recebe, alguns dias após o crime, uma carta do homem que matou, dizendo ser seu meio-irmão? É a partir daí que a história ganha ainda mais fôlego, quando uma intrincada trama familiar de intriga, cobiça e mistério dá mais tempero ao clima tenso do enredo. Nós mesmos, nesse ponto, já estamos querendo assumir o papel de investigador de nosso anti-herói do filme ansiosos em saber porquê alguém incitaria outrem a assassinar o meio-irmão desconhecido. É justamente essa "qualidade", digamos assim, que confere a esse filme um tal ar de nostalgia, que só é dissipada quando nos damos conta que não a cores exibidas em nossa tela ultrapassam o charme do preto e branco e a artificialidade do Technicolor® utilizado em alguns filmes de Hitchcock. E assim, percebemos que o bom cinema de suspense ainda está vivo, ao menos fora de Hollywood.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

LADY VENGEANCE (2005)


Certa ocasião um amigo havia comentado comigo sobre um diretor sul-coreano chamado Chan-wook Park, conhecido pelo polêmico Old Boy, um misto de belíssima linguagem visual e problemas familiares dignos da fábula grega de Édipo.

Eis que tempos atrás o mesmo amigo comentou sobre um interessante blog (foriegnmoviesddl.blogspot.com) onde pude encontrar uma imensa lista de filmes cult. Ali, vi elencados alguns filmes de Park, entre os quais o objeto do post de hoje.
A exemplo de Old Boy, Lady Vengeance trata de dramas complicados da sociedade. O "novo", nessa história, talvez seja uma das maiores inversões de paradigmas que pude observar até hoje dentre os filmes que já assisti.
Afinal, em que mundo uma jovem, por mais bonita que seja, que tenha sequestrado e matado uma criança acabaria virando a heroína de qualquer história fosse? É também difícil imaginar a mesma anti-heroína ser capaz de demonstrar os mais profundos laços de afeto para com sua linda filha, da qual esteve privada da companhia durante o longo período em que esteve presa.
Seria irresponsabilidade demais de minha parte revelar como e porque a bela Yeong-ae Lee reverte uma situação de escárnio público em exemplo de moralidade e cumprimento da justiça em uma sociedade que teoricamente teria um poder judiciário muito mais eficiente que o lentíssimo sistema brasileiro.
Outra quebra de paradigma presente é como Park consegue a façanha de sincronizar uma lindíssima poesia visual (fotografia digna de Oscar), de cores e montagens estonteantes, a um tema tão violento e polêmico, sem o uso de imagens explícitas e deixando os momentos mais chocantes a cargo da imaginação do público.
Eu mesmo me peguei "mordendo a língua" durante o filme, pois, há pouco tempo nunca poderia imaginar que um filme cheio de ação e violência poderia despertar tanta admiração em mim, por mais que acabasse, em um segundo momento, revertendo-se em um drama profundo, interno, e até mesmo filosófico e sociológico. Lady Vengeance é um colírio para os olhos, mas uma chacoalhada na moral e nos paradigmas. Encanta, mas choca. Palmas para Park.