A popularidade de programas como Big Brother e outros inúmeros reality shows demonstra quão grande é o interesse do público em saber da vida alheia. Se acompanhar a rotina de anônimos já é saboroso, qual seria o apelo de “estar por dentro” da vida de celebridades? Exclua-se daí o cotidiano de artistas, cuja vida é um livro aberto, escancarado até. Qual personalidade poderia ter detalhes suficientemente interessantes para serem revelados? A resposta é dada pelo diretor inglês Stephen Frears, cujo maior mérito até então havia sido a comédia cult musical Alta Fidelidade. Frears encontrou na controversa figura da rainha Elizabeth subsídios para filmar o que poderia ser chamado de um documentário “biográfico-romanceado” onde o simples torna-se complexo e o corriqueiro é algo aquém da vida do cidadão normal. O grande mérito de A Rainha é esmiuçar atos triviais da soberana britânica, como caçadas na casa de veraneio real até sua fragilidade ante um eixo de jipe quebrado, por exemplo. Igualmente importante na construção do personagem foi a preocupação em retratar traços importantes de sua personalidade, como a soberba e a mão firme que os monarcas devem ter, e a ponderação para assumir a postura contrária, com humildade e sapiência, em ocasiões adversas. Foi brilhante a escolha do momento histórico – no caso, a morte da princesa Diana e futuros desdobramentos – como pano de fundo no roteiro. Foram humanizadas as figuras da rainha Elizabeth, príncipes Philip e Charles e do primeiro-ministro Tony Blair, com destaque para a atuação magnânima de Helen Mirren como protagonista, fato este já consolidado pelos 22 prêmios que o papel já rendeu a atriz. Não menos importante foi a contribuição de Michael Sheen na carne de Blair, cuja relativa semelhança com o original parece ter contribuído sobremaneira em sua convincente “dobradinha” com Mirren. O já combalido James Cromwell, conhecido por sua atuação em “Babe o porquinho atrapalhado” pouco contribui na pele de Philip, bem como Alex Jennings na pele de Charles. Ambos passam batidos, como na realidade. Sendo assim, A Rainha é perfeito no que se propõe. Mesmo seguindo a premissa de que o cinema é a arte da ilusão e, sendo assim, muito do que é mostrado possa ser apenas conjecturas ou adaptações para melhor digestão do público, fica difícil acreditar que tudo ali não seja a mais pura verdade. É o típico caso em que o resultado é muito melhor que a encomenda.
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