Ao lançar o curta The Grandmother, em 1970, David Lynch executava um ato semelhante ao de submergir o dedo dentro de uma banheira para ver se a água não está gelada ou quente demais. A primeira narrativa de Lynch parte de uma premissa relativamente simples. Afinal, quão atormentadora pode ser a história de uma família composta de pai, mãe e um filho sempre vestido de terno? E se, motivado por pesadelos corriqueiros, o garotinho encharca seu lençol de uma substância alaranjada, aparentemente urina, a qual seu pai enfurecidamente esfrega o rosto do filho contra após o ato consumado? E quando o menino, já cansado de atmosfera nociva onde vive, tanto física quanto psicologicamente, resolve “plantar” uma semente estranha em cima de sua própria cama e dali nasce uma senhora, que supostamente é sua avó? Lynch, à época com apenas 24 anos, provou ser possível a um diretor ser fiel aos seus princípios e não ter que vender a alma para poder ingressar em Hollywood. Desde então criou sua identidade controversa, onde as restrições orçamentárias não foram suficientes para impedi-lo de criar uma atmosfera sinistra, bizarra e perturbadora (sua marca registrada) mesmo fazendo uso dos mais básicos efeitos sonoros e visuais, restritíssimo elenco e locações e o seu ímpar talento de confundir, e ao mesmo tempo fornecer a maior liberdade possível de interpretação, ao público. Felizmente, estava morna a água da banheira.
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