Em uma época onde nada mais se cria, um tanto se transforma e outro tanto se recicla, é revigorante presenciar um thriller húngaro à altura do suspense que o mestre Hitchcock impingia à suas películas.
Afinal, uma definição de um bom suspense não seria "colar o espectador à poltrona, com o coração palpitando e à espera do próximo susto, ou revelação surpreendente"? Nesse quesito, nota 10 para esse enredo intrigante e bem amarrado, ainda que com nem tanta originalidade.
Ainda assim, é gostoso se pegar imaginando o que virá pela frente e esperar até os últimos minutos para saber as surpresas que o roteiro nos revela.
Uma outra referência digna de menção são as implicações morais, que até certo ponto lembram parte da obra de Bergman, presentes na história. Ora, e agora começo a falar do filme em si, quão difícil é julgar se o assassinato é certo ou errado quando o objetivo do mesmo é a tentativa de salvar a vida da própria mãe, por piores condições de saúde e mais avançada a idade em que ela esteja? A indecisão em "julgar" bem e mal se torna ainda maior quando nos tornamos familiares com o personagem principal, um patologista assistente (ou, em miúdos, o homem que toma conta dos cadáveres que chegam a um hospital e os trata para que estejam apresentáveis na hora do funeral) retraído, intimista e introvertido, alheio ao convivío social, para qual a morte não representa um tabu, mas sim sua rotina diária.
E o que pensar quando descobrimos que esse homem, Tibor Malkav, recebe, alguns dias após o crime, uma carta do homem que matou, dizendo ser seu meio-irmão? É a partir daí que a história ganha ainda mais fôlego, quando uma intrincada trama familiar de intriga, cobiça e mistério dá mais tempero ao clima tenso do enredo. Nós mesmos, nesse ponto, já estamos querendo assumir o papel de investigador de nosso anti-herói do filme ansiosos em saber porquê alguém incitaria outrem a assassinar o meio-irmão desconhecido. É justamente essa "qualidade", digamos assim, que confere a esse filme um tal ar de nostalgia, que só é dissipada quando nos damos conta que não a cores exibidas em nossa tela ultrapassam o charme do preto e branco e a artificialidade do Technicolor® utilizado em alguns filmes de Hitchcock. E assim, percebemos que o bom cinema de suspense ainda está vivo, ao menos fora de Hollywood.
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